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As mulheres do campo têm ganhado maior visibilidade no trabalho com a apicultura e com a meliponicultura no território Sertão do São Francisco, localizado no Norte da Bahia.
A atividade desempenhada com as abelhas têm ajudado a subverter a lógica do machismo, além de melhorar a renda de muitas famílias, garantir o empoderamento feminino e a sustentabilidade ambiental.
Margarida Ladislau é presidente da Associação de Apicultores de Sento-Sé (AAPSSE), localizada na zona rural da cidade de Sento-Sé, no norte da Bahia. O empreendimento que também é atendido pelo Centro Público de Economia Solidária Sertão do São Francisco (CESOL-SSF), realiza o trabalho de forma coletiva, através do beneficiamento do mel da abelha apis melífera (com ferrão).
A trabalhadora, antes de ser presidente da Aapssé, era conhecida na localidade como Margarida da comunidade de Andorinhas. “Minha comunidade não tinha costume de trabalhar com abelhas. Quando iam tirar, cortavam as colmeias e matavam as abelhas. Comecei a trabalhar com elas, me apaixonei, passei a capturar os enxames e a cuidar das pequenas”, explicou Margarida.
A apicultora fez parte da fundação da Aapssé. Toda articulação para a formação da associação teve início na década de 1990, mas a formalização somente aconteceu em 2002. A associação surgiu com o propósito de reduzir o êxodo de jovens para a cidade. De acordo com Margarida, os associados viram na comunidade um espaço propício para a criação de abelhas e após diversos treinamentos e capacitações, a ideia que era apenas um projeto piloto se tornou realidade e surgiu o trabalho com a marca Balaio da Caatinga.
“Fui gostando do trabalho e trazendo outras pessoas para a luta. Para mim, trabalhar com as abelhas é muito mais do que tirar o mel para vender. É uma terapia”, afirmou a apicultora.
“LUGAR DE MULHER É ONDE ELA QUISER”: Ao longo de sua trajetória de 20 anos de trabalho com abelhas, Margarida já passou por diversas situações de preconceito e machismo, uma vez que a apicultura, por muito tempo, foi tratada como uma atividade exclusivamente masculina. Porém, aqui no Sertão do São Francisco, as mulheres têm andado na contramão da história, reescrevendo uma nova realidade. A apicultora afirmou que já ouviu várias frases de descrédito, mas nunca se deixou abalar com nenhum comentário e nunca teve medo em trabalhar com as abelhas com ferrão.
“Primeiro, começaram a dizer que a gente não podia com o peso das caixas. Depois, que teríamos medo das abelhas, que seria difícil. Não é difícil! Não temos medo das abelhas! Acreditava-se que somente os homens poderiam fazer as atividades e que a gente deveria ficar apenas na casa do mel. Superamos as dificuldades e mostramos que, se a caixa é pesada, juntamos várias mulheres e levantamos o peso com motivação e cantando ‘companheira me ajude, eu não posso andar só. Eu sozinha ando bem, mas com você ando melhor'”, pontuou Margarida.
DE MÃE PARA FILHA: UMA TRADIÇÃO DE FAMÍLIA- Cinco horas da manhã e o sol está despontando no horizonte. A apicultora e associada da Aapssé, Iara Nogueira (32) já está de pé para o trabalho com as abelhas. Ela realiza toda a atividade de manejo, o processo de alimentação, limpeza das caixas, o transporte das melgueiras até a casa do mel, a higienização, recepção, a desperculação, processo de abertura do favo para ser colocado na centrífuga. Após a decantação, o produto é envazado, rotulado e colocado para a comercialização.
“O manejo com as abelhas nos proporciona o empoderamento, pois a sociedade determinou que a apicultura é um trabalho pesado, desempenhado apenas por homens e não é verdade. Nós aqui na Aapssé fazemos tudo, dividimos os pesos e temos muito cuidado em cada processo”, explicou Iara Nogueira.
O trabalho com as abelhas surgiu em 2008, no início do casamento, através de um projeto idealizado por Iara e o marido. A paixão tem influenciado a pequena Iandra Nogueira (10), que sonha em seguir a profissão dos pais, quando tiver na idade adulta. A menina não realiza nenhuma atividade em campo, mas tem curiosidade em conhecer e para isso, a mãe Iara comprou um Equipamento de Proteção Individual (EPI) para que a filha pudesse ir a campo observar o trabalho realizado pela família.
“Minha mãe sempre diz que na hora certa eu vou fazer as atividades lá. Ela só deixa ir olhar depois da aula e das atividades da escola feitas. Eu gosto muito das abelhas e não tenho medo delas”, afirmou Iandra.
GERAÇÃO DE RENDA E EMPODERAMENTO: Sento-Sé e Remanso, dois extremos separados pelo maior Lago Artificial da América Latina, o Lago de Sobradinho, têm em comum a atividade da apicultura e o empoderamento das mulheres. São 320km de estrada e duas horas de viagem por embarcação.
A apicultora Nilmaria Santos reside na comunidade de Lages, em Remanso. Ela é responsável pelo empreendimento Flores da Caatinga. A jovem empreendedora se destaca na comunidade pela criatividade na produção. “É uma profissão que gera renda não só para mim, como também para as pessoas que estão junto comigo”, pontuou Nilmária.
Além do mel da abelha apis melífera (com ferrão), Nilmara também trabalha com a pasta de pólen, geoprópolis, o hidromel e o mel de mandaçaia e com muita criatividade consegue desenvolver seus equipamentos de trabalho.
Ela explica que quando iniciou na apicultura, ouviu muitas críticas por ser mulher. “Trabalho com abelhas, porque foi a profissão que me identifique. Fui muito criticada por ser mulher, muitos diziam que mulher não consegue trabalhar como apicultora, mas comecei a me dedicar e a mostrar que lugar de mulher é onde ela quiser”, afirmou a apicultora.
BENEFÍCIOS PARA A SAÚDE- O mel da abelha apis melífera e da abelha Melipona Quadrifasciata, popularmente conhecida como Mandaçaia possui inúmeros benefícios para a saúde. O produto ajuda a aumentar a imunidade do corpo, auxilia no tratamento da tosse e inflamações de garganta, ajuda a evitar doenças cardiovasculares e a hipertensão, entre outros.
Na comunidade de Melosa em Remanso, a apicultora Rosângela Gonçalves, responsável pelo Apiário e Meliponário Flores do Sertão, comercializa o mel de mandaçaia, o mel de apis, o geoprópolis, o extrato de própolis, a pasta de pólen, favo de mel, o hidromel e o melomel. A ideia em trabalhar os subprodutos do mel surgiu como alternativa para abertura de novos mercados, pois o apiário não possuía mel suficiente para ser comercializado com o atravessador. E veio a grande surpresa: os produtos conquistaram mais mercados do que o próprio mel.
A apicultora passou a se identificar com o ofício em 2013, após a conclusão de um curso técnico e investiu na meliponicultora e apicultura. Mulher, mãe, esposa, apicultora, Rosângela tem conseguido driblar os estigmas do machismo.
Um grande diferencial no trabalho da meliponicultora é a criação da abelha Mandaçaia, espécie sem ferrão, mansa, que pode ser criada próximo das residências, porém o manejo exige atenção e cuidados redobrados.
“Não é fácil trabalhar com as melíponas. Já pensei várias vezes em desistir. O mel de mandaçaia é muito sensível, e difícil no combate de pragas e doenças. Requer atenção, observação diária e é difícil dar conta da casa, do filho e trabalho, mesmo compartilhando as atividades com o esposo”, explicou a meliponicultora.
COMERCIALIZAÇÃO: Os produtos das apicultoras de Remanso e Sento-Sé podem ser encontrados na loja de Economia Solidária Empório Meu Sertão, que fica na rua Canafístula, nº 148, bairro centenário, em Juazeiro-BA.
Ascom Cesol-SSF