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Em Sento Sé, Rede Mulher debate representatividade política e combate à violência doméstica

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Você sabia que o Brasil é um dos países com pior representatividade política feminina? Entre 2006 e 2022, apenas 33% das candidaturas para cargos eletivos foram femininas, segundo dados da União Interparlamentar e do TSE Mulheres. Foi a partir desses dados que a Rede Mulher do município de Sento Sé realizou no último sábado (01) o debate sobre Mulheres na Política durante a assembleia municipal da Rede.

O encontro, que reuniu 48 mulheres da sede e das comunidades de Andorinha, Pascoal, Limoeiro, Itapera, Brejo da Martinha, Tanque e Sítio, no Colégio Estadual Dr. Juca, também abordou o combate à violência doméstica.

Mulheres na política

A jornalista Gisele Ramos conduziu a discussão, incentivando as participantes a debaterem o perfil do eleitorado brasileiro, a sub-representação feminina na política e suas consequências. Também foi destacada a importância de compreender a exclusão histórica das mulheres na política, que continua a afetar o cenário atual de baixa representatividade feminina nos cargos de liderança. “A questão da pouca presença de mulheres na política não é apenas uma questão de escolha individual, mas sim reflexo de um sistema que historicamente privilegiou o homem. Infelizmente, os espaços de poder foram criados por homens e para os homens”, refletiu Gisele.

Compreendendo que essa desigualdade é reflexo do machismo estruturante, o debate também abordou possíveis caminhos para aumentar a participação das mulheres na política local, reconhecendo a necessidade de desafiar estruturas machistas e promover um ambiente político mais inclusivo e equitativo.

Para a jovem Mariane Souza Lopes, de 25 anos, da comunidade de Andorinha, que participa pela primeira vez de um encontro da Rede, o debate sobre a questão política representou um despertar. “A gente não se interessa, só que a gente vê que tem tudo a ver com a nossa realidade. Foi um papo interessante, porque tem muita gente pensando em política, mas a gente só pensa em presidente, essas coisas, só que tem outros assuntos relacionados à política”, complementa a jovem, que saiu do encontro com o sentimento de que “sou forte e que eu posso mudar a realidade da minha comunidade”.

O sentimento de Mariane não foi único. As mulheres destacaram que a formação proporcionou um ambiente rico, com muitas informações e aprendizados, que as impulsionam, incentivam, valorizam e motivam a lutar para conquistar voz ativa e ocupar diversos espaços de liderança.

Combate à violência doméstica

O combate à violência doméstica foi o foco do segundo momento de discussão da assembleia. A roda de conversa sobre esse tema proporcionou um espaço seguro para que as mulheres compartilhassem suas experiências, se sentissem acolhidas e buscassem apoio mútuo, além de discutir estratégias para enfrentar essa realidade. O debate partiu do estudo da cartilha “Combate à violência doméstica”, produzida pela Rede Mulher, pontuando as formas de violência que as mulheres podem sofrer, enumeradas na Lei Maria da Penha.

Foi essa discussão que mais chamou a atenção de Maria Francisca Oliveira, 54 anos, da comunidade de Pascoal: “A gente vive cercada de mulher, tem duas filhas também, tem mais seis irmãs, então assim, somos uma família muito grande de mulheres e a gente precisa estar bastante informada para se defender e defender os outros também, as outras”.

Essa é a terceira roda de conversa sobre Violência contra a Mulher que a Rede está realizando nos municípios do Território Sertão São Francisco. A atividade faz parte do projeto “Diálogos com a Rede Mulher: – Violência + Empoderamento”, executado pela Rede em parceria com a Coopervida, com apoio da Secretaria de Políticas para as Mulheres da Bahia, por meio do edital “Elas à Frente – Pelo Fim da Violência Contra Mulher”.  Em Sento Sé, a atividade aconteceu em conjunto com a assembleia municipal que marcou umas das ações da “Agenda 2030 no Semiárido baiano”, executado pelo Irpaa, com o apoio da Horizont3000 – organização não-governamental austríaca de cooperação para o desenvolvimento – com fundos provenientes da Comissão Europeia, Sei So Frei Graz, DKA e da Cooperação Austríaca/ Austrian Development Agency (ADA).

Ciranda educativa

Reconhecendo a importância de promover a educação e a conscientização desde a infância, durante a Ciranda Infantil, os temas discutidos pelas mães foram apresentados às crianças por meio de contação de histórias e outras atividades lúdicas, adaptadas à linguagem e à faixa etária das crianças.

“Por meio de gravuras, contação de histórias e brincadeiras, a criança consegue compreender qual o papel social da mulher, o lugar da mulher na sociedade, o que significa ser mulher e como conviver, compreender e respeitar as mulheres”, explica o cirandeiro Benedito Cirqueira Evangelista. Ele ainda defende que esse espaço possibilita que a mãe participe das discussões de forma mais ativa e tranquila, sabendo que suas filhas e filhos estão sendo cuidados/as e desenvolvendo atividades educativas.

Margarida Ladislau Barbosa, 60 anos, membro fundadora da Rede nos anos 90 e uma das organizadoras da assembleia, salienta que muitas mulheres não compreendiam a fundo o papel da mulher na política e a seriedade da violência até participarem do evento. “Muitas mulheres não entendiam da mulher na política… Com relação à violência, até que já tinham escutado aqui e ali, mas ouvi mulher dizer que nem sabia quais os tipos de violência que existiam e que sai daqui satisfeita de ter escutado e de ter participado. E ver as mulheres dizendo assim: ‘a partir de agora a gente vai dar um pouco mais de importância para essa questão da discussão política’”.

Além disso, Margarida destacou a presença marcante da juventude no encontro, percebendo isto como um reflexo positivo do trabalho realizado nas comunidades. “Essas meninas novas que chegaram aqui já é um reflexo da participação e da organização das comunidades. Então, pra mim, isso aí é uma coisa muito boa e que a gente sente que vai dar continuidade. É um legado que está ficando”.

Ascom/Agência Chocalho

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