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Rota do Bode reuniu povos tradicionais e movimentos sociais do semiárido baiano para fortalecer a caprinocultura

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Entre os dias 15 e 19 de julho, aconteceu em Jaguarari, Semiárido Baiano, o 1º Encontro do Comitê da Rota do Bode, uma articulação entre o Fórum Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional dos Povos Tradicionais de Matrizes Africanas (FONSANPOTMA) e Comunidades Tradicionais Fundo de Pasto, para dialogarem sobre a construção de canais de comercialização de caprinos, de forma a garantir a soberania e segurança alimentar e nutricional para os Povos de Matriz Africana.

Esses povos tem em sua cultura alimentar a sacralização dos caprinos e sua carne como a principal fonte de proteína animal consumida. O encontro também teve etapas em Petrolina (PE), e nos municípios de Casa Nova e Juazeiro (BA) e envolveu diferentes instituições governamentais das esferas federal, estadual e municipal, cooperativas, associações e sindicatos rurais.

A Embrapa Alimentos e Territórios foi representada pelo Chefe de Pesquisa e Desenvolvimento Ricardo Elesbão e pelo analista Fabrício Bianchini. Também estiveram presentes os pesquisadores Jorge Farias e Lucas Fonseca (Embrapa Caprinos) e Evandro Holanda, representando a Diretoria de Pesquisa e Inovação da Embrapa (DEPI).

A “Rota do Bode” é uma articulação realizada pelo FONSANPOTMA, entidade que representa os Povos de Matriz Africana nos diferentes conselhos nacionais, como o CONSEA e o CONDRAF, e busca garantir a segurança alimentar e nutricional dos POTMAs e, prioritariamente, o acesso aos caprinos, atualmente comercializados em péssimas condições sanitárias devido ao transporte inadequado e ilícito, além do alto valor cobrado pelos atravessadores.

A pauta principal do encontro foi a construção de um canal de comercialização justa e solidária, que integre as associações das Comunidades Tradicionais Fundo de Pasto da região Semiárida baiana, com as Unidades Territoriais Tradicionais dos Povos de Matriz Africana e Comunidades de Terreiro, presentes em todo o país.

 A viabilidade da caprinovinocultura na região foi uma das pautas levadas pelo Coletivo Enxame, coletivo político de Juazeiro (BA) que reúne pessoas de diferentes segmentos em pautas como defesa do meio ambiente, educação, cultura, juventude, mulheres e convivência com o semiárido.

 “O Coletivo Enxame busca contribuir a partir do que compreendemos sobre convivência com o semiárido, no qual entendemos que é viável desenvolver a caprinovinocultura na região sem deixar de se preocupar com a garantia da existência da nossa Caatinga”, afirma a integrante Érica Daiane. “Defendemos que essa Teia venha contemplar de forma democrática todos os povos e comunidades tradicionais”, complementa.

 Parceria com a Embrapa – As primeiras reuniões da Embrapa com o Fonsanpotma ocorreram em janeiro de 2023, por ocasião do VIII Fórum Social Mundial. Na época, a Embrapa foi convidada para pensar numa estratégia de trabalhar a qualidade de alguns alimentos-chave para os povos e comunidades de matriz africana.

Para Bianchini, o objetivo da “Rota do Bode é garantir o bem estar dos animais, desde sua criação tradicional e agroecológica em áreas extensivas na Caatinga, ao seu transporte e descanso em veredas, até o seu abate e consumo nas  Unidades Territoriais Tradicionais (UTTs), além de garantir o preço justo na perspectiva da sociobioeconomia solidária”, comentou.

 “Além do suporte ao Comitê, iniciamos uma discussão sobre a possibilidade de formatação de um projeto FINEP (Financiadora de Estudos e Projetos, ligada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação) que, a princípio, envolveria também as Embrapas Caprinos, Semiárido e Alimentos e Territórios, além do IRPAA (Instituto Regional da Pequena Agropecuária Apropriada), a Central da Caatinga, o Governo do Estado da Bahia e Consórcio Nordeste”, afirmou o chefe de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa Alimentos e Territórios, Ricardo Elesbão.

 Carta de Jaguarari – Finalizado de forma coletiva e sob a coordenação de Edson Nogueira – Tata Nganga Dile, na tradição Bantu, representante do FONSANPOTMA, e com o suporte do Coletivo Enxame – o documento final do encontro afirma que está em curso a articulação e implementação de uma Teia Nacional das Rotas do Bode, uma construção coletiva que deve se tornar política pública de Estado.

 A Carta de Jaguarari afirma que é determinante a participação ativa dos governos com providências e investimentos para o suprimento de demandas específicas, a fim de assegurar que os povos tradicionais de matriz africana e comunidades de terreiros sejam beneficiados, tanto quanto os/as fornecedores/as dos animais.

 “Os diversos atores presentes compreenderam que trata-se não apenas de uma política de reparação histórica, mas uma estratégia de garantia da segurança e soberania alimentar e nutricional destes povos, bem como a preservação da tradição, o que inclui seus sistemas alimentares. Nesse sentido, é essencial o engajamento dos diversos povos tradicionais de matriz africana e comunidades de terreiro, inclusive fortalecendo a criação do FONSANPOTMA nos municípios e regiões”, diz um trecho do documento.

 Além da Embrapa, o 1º Encontro do Comitê da Rota do Bode contou com a participação dos Ministérios da Igualdade Racial (MIR), da Agricultura (Mapa), do Desenvolvimento Agrário (MDA), do IRPAA, Univasf, CAR e entidades locais.

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Fonte: Embrapa

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