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30ª edição da Escola de Formação do Irpaa reúne maior número de jovens vindos/as de todos os estados do Nordeste

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A encenação das violências com o povo negro e a reafirmação da beleza e do pertecimento da negritude fizeram parte da mística inicial da 30ª edição da Escola de Formação para Convivência com o Semiárido. O momento aconteceu na noite desta segunda-feira (8) e refletiu uma parte das discussões propostas pelo tema desse ano: “Por um semiárido antirracista, com equidade de gênero e diversidade”.

Uma abertura tão simbólica, com o despertar para intensificação da luta antirracista, marcou a jovem participante Watly Kauany, que veio representando a comunidade indígena do Povo Koiupanká, de Inhapi-AL. “Tô extremamente empolgada, muito feliz em estar aqui participando. De início, adorei a mística, foi muito tocante, principalmente para a gente que é jovem e enfrenta bastante preconceito, não é uma luta fácil, a gente vem percorrendo um caminho com muitas pedras, para mim foi de suma importância aquela mística, mexeu muito comigo”.

O jovem Daniel Gomes, que veio representando a Associação de Solidariedade Codoense, de Codó-MA, também demonstra empolgação e destaca o que espera desses dias de estudos e vivências. “É uma expectativa muito grande, de grandes aprendizados que eu irei não só levar para minha cidade, mas também na vida (…) até os jovens que lá estão a esperar por mim, porque realmente espero levar resultados. Eu vim aqui pra representar minha cidade, minha instituição, levar o saber para a gente fazer, realmente, uma revolução no Semiárido brasileiro”.

Foi também nesse sentido, de evidenciar a importância da troca de saberes e com o fortalecimento das redes de parcerias, que a coordenadora administrativa do Instituto Regional da Pequena Agropecuária Apropriada (Irpaa), Nívea Rocha, ressaltou, durante a abertura, a relevância desse espaço de formação e que, nesse trabalho, “o Irpaa não é sozinho, essa diversidade de parceiros, de pessoas, de redes e organização social elenca, nesse momento, esse potencial que é trabalhar para fazer acontecer e lutar pelo despertar. A juventude é o hoje, este momento. (…) e perceber que ter as juventudes do campo e da cidade (na Escola de Formação) também é um diferencial e um potencial para avançar nas pautas da Convivência com o Semiárido”.

O presidente do Irpaa, José Moacir dos Santos, fez um resgate histórico das primeiras atividades na década de 90, em um contexto em que os povos do Semiárido precisaram enfrentar a fome e a indústria da seca, para além do recebimento de água através dos carros-pipa e de cestas básicas; e sim com políticas públicas. Por isso, houve a mobilização para a construção de uma proposta, não de combate à seca, mas de Convivência com o Semiárido; com a captação de água da chuva através das cisternas e tantas outras ações.

Moacir pontuou ainda que a potencialização dessas lutas segue sendo um dos objetivos dessa Escola, tendo como princípio o fortalecimento das entidades e organizações, que enviam representantes para participar. “Com a força da organização, as forças políticas que já têm, levar elementos para fortalecer a luta do seu povo. (…) como que a gente pode fortalecer a nossa luta, tendo uma proposta boa, uma proposta política que a gente possa colocar na mesa, discutir e garantir que a gente tenha condições boas para viver aqui no Semiárido. Então, essa é a ideia, a história e o porquê dessa Escola de Formação”.

Após o momento inicial, aconteceu a divisão de tarefas e encaminhamentos sobre as primeiras atividades, com ênfase nos compromissos com os cuidados e autogestão do espaço do Centro de Formação Dom José Rodrigues (CFDJR), localizado no Jardim Primavera, em Juazeiro-BA.

“Uma das coisas que mais me chamou a atenção aqui é a dinâmica de responsabilidade, em que cada um já aprende a arcar com os seus atos, ou seja as pessoas já estão tendo um pouco de experiência com responsabilidades”, enfatiza o jovem Daniel. Da mesma forma, e complementando sobre os assuntos e compromissos, Watly afirma que gostou desse formato. “Em questão dos temas, adorei. A divisão de trabalhos, tudo (…) Espero levar muito conhecimento pra meu povo e deixar com vocês também”.

Essa 30ª edição conta com a participação de quase 50 jovens, vindos de entidades e organizações de todos os estados do Nordeste. A programação segue até o dia 19 de julho, com atividades diversas; vai ter, por exemplo, vivências práticas no CFDJR; visitas ao Parque Estadual de Canudos, à sede da Coopercuc em Uauá; à Escola Família Agrícola de Sobradinho e também na área da barragem, para conhecer o histórico e impactos desse empreendimento. Também estão previstas práticas e debates sobre temas como reúso de águas, quintal produtivo, hidroestesia, equidade de gênero, diversidade, mudanças climáticas, Recaatingamento e organização social das comunidades.

O Irpaa sempre contou com o aporte financeiro de projetos com a cooperação internacional para viabilizar essa ação. Nesta edição, a Instituição segue com o apoio da MISEREOR.

Além disso, entraram na parceria o Projeto Baraúnas dos Sertões, uma iniciativa da Rede ATER Nordeste de Agroecologia, Rede Feminismo e Agroecologia do Nordeste, Articulação Nacional de Agroecologia (ANA), do GT de Mulheres da ANA. As ações do Baraúnas dos Sertões, que também têm como um dos objetivos a formação de juventudes, são realizadas em parceria com: Ministério de Desenvolvimento Agrário (MDA), Governo Federal; Núcleo Jurema, da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE); Fundação Apolônio Salles de Desenvolvimento Educacional (FADURPE), Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab) e Universidade Federal do Piauí (UFPI).

Breve histórico da Escola de Formação do Irpaa
Com exceção dos dois anos da pandemia do coronavírus (2020 e 2021), desde 1992 que o Irpaa realiza a Escola de Formação para Convivência com o Semiárido. Esse curso é um momento intenso de estudos e vivências, que acontece durante duas semanas no CFDJR e que possibilita a formação de multiplicadores/as da Convivência, de desconstrução de estereótipos dessa região e discussões de outros assuntos que são tão importantes para os Povos do Semiárido, como produção apropriada à essa região, acesso à terra e as questões fundiárias, defesa das Comunidades Tradicionais de Fundo de Pasto.

Desde 2013 que a Escola passou a contar com uma participação maior de jovens. Isso foi evidenciado em 2015, quando o tema da 23ª Escola foi: “Juventude como protagonista da Convivência com o Semiárido”. Atualmente, a Instituição tem como foco o público jovem, por isso essa formação passou a ser considerada uma Escola de Formação de Juventudes para Convivência com o Semiárido (EFJCSA). Assim como no início, o Irpaa segue com o princípio de sempre contar com a participação de pessoas indicadas por organizações parceiras, por exemplo: Paróquias, ONGs, Associações e Movimentos Sociais populares.

O Irpaa celebra essa marca de 30 edições, com a certeza de que toda a trajetória é repleta de muita história bonita, significativa troca de saberes e que, de acordo com Moacir, já formou, somando a turma de 2024, aproximadamente 1.200 multiplicadores/as da Convivência com o Semiárido, empoderados/as, espalhados/as por diversos cantos do Semiárido brasileiro.

Saiba mais detalhes em uma entrevista com o presidente do Irpaa, concedida ao programa de rádio da Instituição, o Viva Bem no Sertão – edição do dia 05 de julho (edição completa).

Texto e fotos: Eixo Educação e Comunicação do Irpaa

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