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Após seis anos, comunidades de fundo e fecho de pasto voltam a realizar encontro estadual

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Após seis anos de hiato, as comunidades de fundo e fecho de pasto realizaram o seu 7º Seminário Estadual, um encontro entre representantes das diversas comunidades da Bahia para discutir desafios e perspectivas desses povos tradicionais. Durante três dias (10 a 12 de julho), cerca de 250 pessoas representantes das comunidades estiveram reunidas em Salvador.

“Depois de 6 anos, as comunidades de todas as regiões se juntam. É um legado muito importante essa reafirmação da união das comunidades de fundo e fecho de pasto na luta pela garantia de seus direitos e dos territórios, trazendo essa ênfase na educação contextualizada”, explica Ana Paula Ribeiro, da comunidade Monte Alegre, em Andorinha (BA).

Com uma forte presença da juventude, o tema do encontro foi “Por uma educação contextualizada em defesa e garantia dos territórios”. A educação do/no campo contextualizada é uma reivindicação que une diversos povos e comunidades tradicionais que habitam o campo. Ela representa a luta por uma educação que fortaleça as comunidades, represente suas diversas realidades de vida, com acesso e permanência para estudantes do campo.

“Uma educação onde a gente possa pensar esse chão que a gente pisa”, resume Ana Paula. Ela acrescenta ainda que, para garantir a permanência da juventude no campo, é preciso investir em uma educação emancipadora, que fortaleça a luta e reflita a realidade das comunidades.

“A educação contextualizada é um pilar fundamental para a preservação e valorização das tradições, do conhecimento das comunidades. Uma educação que parta desse lugar, que pense esse sujeito, que valorize, que traga a realidade, e contribua para o para um desenvolvimento sustentável”, afirma Ana Paula.

Conflitos no campo

No primeiro dia do encontro, os e as representantes das comunidades compartilharam os desafios e perspectivas de suas comunidades. Embora distantes geograficamente, a realidade de conflitos e direitos negados é comum à maioria das comunidades de fundo e fecho de pasto.

A maior parte delas levou relatos de pressões e violências sofridas pelo avanço de grandes empreendimentos sobre os territórios comunitários. Os agentes desses conflitos englobam empreendimentos de energia eólica, mineração e agronegócio, dentre outros, além do próprio Estado, por não prover a regularização e titularização dos territórios comunitários.

“As comunidades trazem ainda essa realidade da persistência dos conflitos e das ameaças. Muitas delas, na região Oeste, relatam que estão encurraladas, e que se veem sem condição de desenvolver as suas atividades de subsistência, que é a criação”, relata Ana Paula.

As comunidades de fundo e fecho de pasto, que só existem na Bahia, mantêm viva a tradição de criar animais, caprinos e bovinos, em áreas comunitárias. Essas terras utilizadas para alimentar os animais são de propriedade da comunidade, e não pedaços individuais ou familiares de terras. A chegada de grandes empreendimentos a esses territórios tem ameaçado os modos de vida de comunidades com mais de 300 anos de existência documentada nas regiões de Cerrado e Caatinga no estado.

O seminário ainda promoveu um espaço para reunião exclusiva das mulheres de fundo e fecho de pasto, em que puderam discutir as demandas específicas do grupo. Elas destacaram tanto a violência misógina sofrida diretamente pelas mulheres em seu cotidiano, quanto os impactos causados pelos grandes empreendimentos em seus territórios.

“Quando chega essa violência no campo e nas comunidades tradicionais de fundo e fecho de pasto, são as mulheres as primeiras a serem impactadas. Então, a oficina foi muito rica nesse sentido de pensar a perspectiva de como as mulheres também ganham força e visibilidade para dentro das lutas dos fundos e fechos de pasto”, destacou Ana Paula.

Texto: Gabriela Amorim – Jornal Brasil de Fato Bahia
Fotos: Alfredo Portugal, Ascom Dep. Marcelino Galo, Ascom CTFFP

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