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Um registro das memórias, dos patrimônios culturais e naturais e do modo de vida das comunidades do território de Angico dos Dias em Campo Alegre de Lourdes. Esse é o objetivo da publicação “Mapeamento Agroecológico – Território de Fundo de Pasto de Angico dos Dias”, lançado no último domingo (3), na Creche Municipal Professor Gilmar, na referida comunidade.
O lançamento da cartilha contou com a presença de representantes das comunidades que fizeram parte do estudo, agentes da Comissão Pastoral da Terra (CPT) de Juazeiro e professores e estudantes da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf).
A publicação é um fruto de um longo processo de luta das comunidades de fundo de pasto de Angico dos Dias, Sítio Açu, Baixão Grande, Baixão Novo e Baixãozinho contra os danos socioambientais provocados pela mineradora de fosfato Galvani, instalada no território há quase 20 anos. Como têm revelado os intercâmbios políticos apoiados pela CPT, envolvendo numerosas comunidades Bahia afora, empresas como a Galvani lançam mão de vários artifícios para expulsar famílias de suas comunidades, dividindo seus interesses comunitários e enfraquecendo suas noções comuns com as promessas infundadas de progresso e emprego, as astuciosas enganações do desenvolvimento.
Por outro lado, as comunidades também têm rearticulado suas relações comunitárias, formando associações de moradores e traçando estratégias comuns de enfrentamento às novas investidas que se avizinham. Fruto dessa composição e com o apoio da CPT, segundo Ednei Dias Soares, presidente da Associação de Fundo de Pasto de Angico dos Dias e Sítio Açu, foi o mutirão feito pela própria comunidade para “traçar as variantes e georreferenciar as delimitações” do território, o que possibilitou a construção de um primeiro mapa, a obtenção de documentos do INCRA e a compreensão “da dimensão da ameaça”. Desdobrando esses esforços, e igualmente fruto dessa composição comunitária, foi a construção do mapeamento agroecológico que, além de estender a parceria com a CPT, contou com a coordenação de Diego Cesar Alves Lima Verde, do Grupo de Pesquisa Sertão Agroecológico (Univasf), e com o trabalho valoroso de outras/os pesquisadoras/es e técnicas/os.
Com o apoio da Rede Territorial de Agroecologia do Sertão do São Francisco Baiano e Pernambucano, da Misereor e do Projeto Bem Diverso (Embrapa/PNUD/GEF), esta cartografia revela sua força política nas palavras das/os próprias/os moradoras/es da comunidade. Durante o lançamento da publicação, Dona Maria Pereira e Ednei ressaltaram a força documental da cartografia, que servirá a um duplo propósito: por um lado, para ampliar os conhecimentos da própria comunidade no que diz respeito às suas poderosas capacidades produtivas e à grandeza das ameaças da mineração e das grilagens, e, por outro, para servir como peça de denúncia contra as violações que vêm sofrendo há anos.
Ediva Bastos, conhecida como Dona Menininha, por exemplo, ressaltou que um dos mapas que compõem a cartografia tornou público o nome das/os grileiras/os que tramaram tentativas de tomar suas terras. A combinação de conhecimento e capacidade de luta reforça a síntese proferida pelo professor Paulinho, da comunidade de Baixão Grande: “a forma de resistência é não ceder”. A força política de todas essas sábias elaborações evidencia que essas comunidades sabem bem a natureza dos combates em que estão metidas, com terríveis avanços realizados pela mineradora. Todavia, revela também a chama da resistência dos povos, que mantém a batalha aberta e a esperança de um devir que escape à destruição total das ecologias que ainda sustentam o planeta em que habitamos.
Comunicação CPT Juazeiro