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O ciclone que se estendeu por vasta região do Sul, principalmente no Rio Grande, é uma tragédia socioambiental que se origina de um fenômeno natural, incrementada pela irresponsabilidade humana nas mudanças climáticas. Portanto, não apenas uma tragédia natural, como tem enfatizado a mídia tradicional.
O Cone Sul das Américas deveria ser um deserto, dizem os cientistas. Quando se olha o mapa do mundo, nessa latitude, estão grandes desertos, como o Atacama no Chile, o deserto da Namíbia na África ou o deserto da Austrália. Por que só no Cone Sul não há deserto? Porque existe a Amazônia que, com seus Rios Voadores, abastece todo o continente no lado ocidental dos Andes, indo até ao território Uruguaio, Paraguaio e Argentino, passando pelo Brasil central e as regiões Sul e Sudeste. Portanto, um milagre da natureza.
Entretanto, queremos pôr a floresta amazônica abaixo para criar mais umas cabeças de gado ou plantar uns grãos de soja.
Entretanto, com as mudanças climáticas, sobretudo o aquecimento global, fenômenos extremos vão se intensificando, tanto em número quanto em intensidade. Portanto, os ciclones na região Sul vão aumentar em número e intensidade. Em poucos dias eles passam, mas vão voltar, deixando atrás de si um rastro de destruição material nos meios mais pobres e vulneráveis, principalmente eliminando vidas humanas. Até esse momento, se fala em 28 mortos pelo ciclone desses dias.
Está aí uma opção humana civilizacional que parece não ter mais retorno. Deveríamos imediatamente eliminar, ao menos diminuir, o uso de combustíveis fósseis, principalmente derivados do petróleo para evitar o aumento de CO2 na atmosfera. No Brasil, deveríamos evitar a derrubada e a queima de nossas florestas. Porém, o que vemos é a abertura de novos poços, como na foz da Amazônia, a pretexto de “não imobilizar as riquezas” que esse país tem. Em nível global o resultado é líquido (literalmente) e certo. Não é só questão de impacto na bacia amazônica, é impacto na atmosfera global. E esse resultado recai sobre nossas cabeças com forças sempre mais incontroláveis.
Não sabemos para onde caminha a estupidez humana. Ao que tudo indica, para um cenário cada vez mais próximo do inferno do que do paraíso. Nossos parcos esforços são derrotados pelas forças da destruição. Vamos continuar resistindo apesar dos pesares. Eu até acredito que a Terra será mais generosa para com a humanidade do que a humanidade é para com a Terra. Mas, como diz Papa Francisco, “se tardar mais, tarde demais”.
Por Roberto Malvezzi (Gogó)