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Da Teologia da Criação para a Ecoteologia

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Claro que as duas são inseparáveis e umbilicalmente vinculadas, mas há pequenos detalhes que nos permitem ver algumas diferenças entre ambas.

Quem se debruça sobre os textos bíblicos para entender como Deus se revela em sua criação, pode identificar uma série de textos básicos que nos dão a entender como Deus é o Criador (Gn 1); é um Deus que se alia a toda sua obra criada (Gn 8); é um Deus que se alia posteriormente a um povo e dele se faz libertador (Dt 30,20); é um Deus que se encarna e se faz terra nessa Terra (Jo 1); é um Deus que redime toda criação (Rm 8,20-21); e é um Deus que leva toda sua criação à plenitude (Ap 20,2). Portanto, aí está um propósito, não uma casualidade. E o projeto de Deus se faz maravilhoso.

Deus cria para levar à plenitude, não para deletar (extinguir), porque ama cada uma de suas criaturas. Essa é uma teologia da criação.

Porém, nos próprios textos bíblicos, em outros contextos, Deus revela sua preocupação com o “cotidiano” da criação, o aqui e o agora. O cuidado com a Terra, com as águas, com os animais. Sem falar no seu amor por toda sua criação cantada nos salmos, na sabedoria dos povos, na ira indignada dos profetas.

Então, quando falamos de Teologia da Criação, estamos falando da obra total do criador, da qual, inclusive, fazemos parte. Quando falamos de Ecoteologia, estamos falando do cuidado com a criação que cabe ao ser humano: “Deus colocou o ser humano no jardim do Éden para o cultivar e guardar” (Gn 2,15).

Lembremo-nos que cultivar é a economia e o guardar é a ecologia. Duas palavras com a mesma origem, “oikós”, que em grego quer dizer “casa”.

Por isso que a Ecoteologia também parte dos textos bíblicos: o descanso do sábado é para os humanos e para “gado bovino, jumento e gado qualquer” (Dt 5,14), o cuidado é também com os animais selvagens (Dt 22,1-4), “seis anos semearás a tua terra, e seis anos podarás a tua vinha, e colherás os seus frutos; porém, ao sétimo ano haverá sábado de descanso para a terra, um sábado ao Senhor; não semearás o teu campo nem podarás a tua vinha” (Lv 25, 3-4). Enfim, o mesmo Deus que cria é o mesmo Deus que exige o cuidado humano para com sua criação.

Por isso que a Ecoteologia se debruça sobre os desafios socioambientais do mundo contemporâneo, para tentar olhar para o mundo pelas retinas do próprio Deus, como o aquecimento global, a erosão da biodiversidade, a contaminação dos solos, das águas, com os fenômenos extremos de secas, enchentes e ondas de calor.

Ainda mais, sabe que o impacto desses fenômenos atinge sobretudo os mais vulneráveis, aqueles que estão em áreas de risco, sujeitos a todo tipo de sofrimento emocional, caso da ecoansiedade, ou sofrimentos físicos, como doenças transmissíveis, perda de bens, de casas, e até perda da própria vida.

A Mãe Terra é mais generosa para conosco do que somos para com ela. Somos filhos ingratos e incestuosos. Olhar para esses fenômenos através dos olhos de Deus e nos comprometermos com o cuidado da Terra e dos mais vulneráveis é a tarefa principal da Ecoteologia.

Roberto Malvezzi, graduado em Filosofia, Teologia e Estudos Sociais. Membro da Comissão Especial de Ecologia Integral e Mineração – CNBB. Membro da Equipe de Assessoria da REPAM-BRASIL – CNBB. Escritor e Compositor. Concorreu com Targino Gondim e Nilton Freitas ao Grammy Latino na categoria Raízes da Língua Portuguesa, em 2022, com o CD “Belo Chico”, disponível no Spotify e outras plataformas digitais.

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