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A condecoração aconteceu durante o evento celebrativo dos 180 anos do Conselho
Auditório lotado, música, agradecimentos emocionados, reafirmação da importância da Educação Contextualizada e reivindicação pelo direito à educação no campo. Desta forma, a noite de terça-feira (20) foi marcante para o Território Sertão do São Francisco e para os/as 9 homenageados/as com a Comenda de Honra “CEE-BA 180 Anos”. A condecoração foi realizada pelo Conselho Estadual da Educação da Bahia, alusiva ao aniversário deste que é o primeiro órgão do tipo no Brasil. O evento “Noite da Educação” aconteceu no auditório do Colégio Modelo, em Juazeiro, e fez parte da programação celebrativa do Conselho, que também acontece nos demais territórios de identidade da Bahia. A honraria leva o nome do educador Anísio Teixeira e foi esculpida em madeira pelo artista plástico Ubirajara Oliveira da Cruz, conhecido como Billy Oliveira, que vive há cerca de 30 anos em Cachoeira-BA.
Desenvolvendo atividades há mais de 32 anos no Semiárido, o Instituto Regional da Pequena Agropecuária Apropriada (Irpaa) teve a sua atuação em favor do Bem Viver e da Convivência com o Semiárido reconhecida com esta honraria. Ao receber a Comenda, o coordenador geral do Irpaa, Cícero Félix, destacou a atuação da instituição, que além de fazer a educação popular nos meios não escolares, também ousou trabalhar na educação escolar formal. “A construção da Convivência com o Semiárido e a construção de uma proposta de Educação Contextualizada com Semiárido brasileiro só foi possível porque nós temos três principais fontes de sabedorias: a primeira fonte é a natureza, o ecossistema dos semiáridos; a segunda fonte é a sabedoria dos povos do Semiárido; e a terceira fonte de sabedoria são as sabedorias das escolas, das universidades, dos institutos e dos centros de pesquisas. Então, nós queremos continuar nesse caminho”, afirmou o coordenador.
Cícero aproveitou ainda a ocasião para ressaltar em sua fala a forma como o Irpaa atua, evidenciando o êxito de um dos resultados das ações que é o CD Belo Chico. A obra está concorrendo ao Gremmy Latino, na categoria Música de Raízes em Língua Portuguesa.
Na luta constante para a garantia da vida digna no Semiárido outro nome marcante é o de Dom José Rodrigues, que foi bispo de Juazeiro no período de 1975 a 2003. A condecoração em reconhecimento (em memória) pela dedicação do religioso às causas populares e da Educação foi recebida pelo pastor atual da Diocese, Bispo Dom Carlos Alberto Breis.
Dom Beto, como é chamado, destaca que Dom José Rodrigues tinha a educação como um instrumento de transformação, principalmente diante do contexto social da época da construção da barragem de Sobradinho, com muitas famílias atingidas e sem os direitos garantidos. Para fazer frente a isso, ele “pensava estratégias, tanto em termos de conscientização acerca das populações e dos seus direitos, como fazer pressão fora. E a educação era um instrumento. Uma educação no estilo da Pedagogia do Oprimido, de Paulo Freire”.
O bispo da Diocese de Juazeiro pontua ainda que a honraria “é mais do que merecida e é um reconhecimento da figura de Dom José Rodrigues, que foi de fato um educador no sentido pleno da palavra e ao mesmo tempo fez com que tanta gente se tornasse educadora”.
Com 47 anos de atuação profissional na educação, 35 deles como servidora da Universidade do Estado da Bahia, campus Juazeiro, a professora Francisca de Sá é conhecida na região também pela atuação dedicada à formação de professores/as e na alfabetização de jovens e adultos. “Foi um reconhecimento muito importante. Principalmente para esse tipo de educação que nós fazemos aqui no Semiárido, como a Educação Contextualizada para a Convivência com o Semiárido. Esse momento foi um coroamento desse esforço que todos nós fazemos para que esse tipo de Educação seja reconhecida”, ressalta a educadora, que foi uma das homenageadas durante a cerimônia.
A Escola Família Agrícola de Sobradinho (Efas) também foi homenageada pelo seu trabalho. Após o recebimento da honraria os/as estudantes entoaram as palavras de ordem: “Não vou sair do campo pra poder ir pra escola, educação no campo é direito, não esmola!”. O ato dos/as alunos/as reforça a reivindicação da juventude pelo acesso à educação de qualidade no local onde vivem e respeitando o contexto em que estão inseridos/as.
A preocupação e luta pelo direito à educação pública, gratuita e de qualidade tem sido uma marca da atuação das representações da sociedade civil que estão no Conselho da Educação. Um dos membros, Tiago Pereira, que integra a Rede das Escolas Famílias Agrícolas Integradas do Semiárido (REFAISA) e o Irpaa, destaca que as homenagens são importantes, “sobretudo em tempos de muitas crises que estamos vivendo. A própria reforma do ensino médio tem gerado um impacto muito grande na vida das pessoas. A gente precisa criar movimentos de resistência. O Conselho Estadual da Educação vir ouvir a sociedade, vir para o território é para também criar esse processo de escuta, de aproximação”.
Tiago Pereira também reforça a necessidade de olhar para a realidade atual. “Os estudantes estão perdendo o encanto pela educação, não tem mais motivação de ir pra escola, a evasão está altíssima, a depressão, a mutilação… A fome tem batido na porta das pessoas e a educação tem sofrido esse respingo. Portanto, esse movimento de resistência precisa se fortalecer e por isso essas pessoas foram homenageadas”, finaliza.
Diante de todas as atividades realizadas ao longo do dia e a culminância com a entrega da Comenda, o presidente do Conselho, Paulo Gabriel Nacif, pontuou a relevância do Território Sertão do São Francisco no cenário educacional. “Daqui saem algumas experiências mais importantes de Educação Contextualizada para o Brasil e nós vimos isso aqui, nessa Noite da Educação, personalidades e instituições que fazem uma educação diferenciada, contextualizada e de qualidade”, observa.
Durante a cerimônia também receberam Comenda “CEE-BA 180 Anos”, a professora aposentada da Univasf, Lúcia Marisy Ribeiro; o professor aposentado da Univasf, Celito Kestering e o atual Pró-reitor de Ensino, professor Adelson de Oliveira; Dulcilene Kestering, secretária de Educação do Município de Sobradinho e Mariluce Cardoso, professora das redes estadual e municipal de ensino em Uauá-BA.
Texto e fotos: Eixo Educação e Comunicação do Irpaa