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Sobre nós

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O texto abaixo foi extraído da Monografia de conclusão do Curso de Licenciatura Plena em História – Regime Especial, da Universidade Estadual do Piauí no ano de 2006, sendo seus autores: Ana Cláudia Gomes da Silva Costa, Isaias Alves de Souza, Jean Antunes e Marineide Mangueira Couto.

A Rádio Comunitária Zabelê FM, sociedade civil sem fins lucrativos, com o objetivo de prestar serviços de radiodifusão sonora de natureza cultural, artística, educativa, informativa e de utilidade pública em benefício geral da comunidade remansense foi fundada em 26 de fevereiro de 1997, porém mantém em funcionamento desde dezembro de 1996.

A emissora tem inicio com discussões realizadas com os integrantes do GCUCA[1] em Remanso. Os debates giravam em torno da necessidade de se trabalhar a notícia, a comunicação no município. Uma comunicação produzida pelos grupos populares da comunidade. Inicialmente a idéia de Roberto Freitas, Alex Gonçalves e Emerson Rodrigues, membros do GCUCA, era montar um sistema de alto-falante instalado na Igreja Católica da cidade. O grupo ainda chegou a vincular dois programas, quando precisaram se retirar para outro local por causa do barulho que estava incomodando a vizinhança. É decidido então montar uma torre no Centro Comunitário Madre Cabrini, que também não deu certo devido a proximidade com a Casa de Saúde.

“(…) A gente já participava de um grupo de jovens da Igreja e observava a juventude em nossa cidade que andava muito dispersa, não tinha nada, nenhum movimento cultural que envolvesse alguma coisa para os jovens fazer. Então a gente teve a idéia de montar um grupo cultural. Começamos a entrar em contato com alguns grupos mais próximos, pessoas que a gente conhecia e tivemos o apoio do Centro Comunitário Madre Cabrini, que cedeu o espaço pra gente articular as reuniões e começar com o grupo. Começamos a nos fortalecer com a chegada de mais jovens, a gente deu ao grupo o nome de GCUCA. Com o tempo começamos a ver a questão de trabalho e as pessoas começaram a achar interessante e certo dia começamos a notar a questão da comunicação em Remanso. Já éramos correspondentes do SEDICA[2]. A gente coletava algumas informações aqui, gravava e mandava via telefone para a Emissora Rural de Petrolina para ser vinculado lá. Então começamos a ver que aqui em Remanso a gente poderia ver essa questão de botar ali na Igreja que tem uns alto-falantes, que sempre no final do dia se passava músicas, então pensamos: porque não um programa?”. (Alex Gonçalves, 2006)

[1] Grupo Cultural Cabrini

[2] Setor Diocesano de Comunicação Áudio Visual – de Juazeiro

Em 1996 os fundadores da Rádio ficam sabendo de um projeto de lei que tramitava no Congresso Nacional que propunha a regulamentação do serviço de radiodifusão comunitária. A partir desse momento o grupo passa a se mobilizar para implantar uma emissora com bases comunitárias.

Nessa época estava surgindo em todo o Brasil milhares de Rádios Comunitárias, inclusive nas cidades vizinhas de Dirceu Arcoverde e São Raimundo Nonato – PI. A partir daí surge a necessidade de fundar uma Radio Comunitária em Remanso.

“(…) Já corria a onda das Rádios Comunitárias no país, que chamavam pejorativamente de rádios piratas, quando na verdade setores da população queria um meio de comunicação em que a comunidade fosse a detentora desse meio de comunicação. Daí fomos buscar as informações nas entidades que estavam discutindo as rádios comunitária no Brasil. No Congresso Nacional buscamos um anti-projeto de lei  que já estava em discussão. Esse anti-projeto propunha a legalização das rádios comunitárias no pais. A idéia foi amadurecendo e resolvemos fazer uma Associação que era a Rádio Comunitária Zabelê FM. Era uma Associação onde todas as pessoas envolvidas resolveram participar dessa Associação(…) A partir daí nós resolvemos antecipar as coisas, colocar em prática o projeto das Rádios Comunitárias.(…) Resolvemos fazer um transmissor artesanal que foi feito pelo Zé Carlos , que é técnico eletrônico em Remanso”. (Vavá Costa, 2006)

Neste ano foram realizadas varias reuniões com as entidades locais no sentido de explicar o que era e qual a importância de uma Rádio Comunitária para Remanso. Nas primeiras reuniões participaram entidades como o Grupo Cultural Cabrini, a Igreja Católica, o Sindicato dos Trabalhadores Rurais, a Associação São José, a Colônia dos Pescadores, a Sociedade Beneficente de Operários e a Associação de Moradores das Quadras 12 e 20, além de pessoas físicas da comunidade.

“(…) Nós montamos a rádio na prática, ainda existindo um projeto de lei, não era lei ainda, nós começamos a dar os primeiros passos para montar a Rádio Comunitária em Remanso. (…) Então juntamos essas Associações para fortalecer o caráter comunitário, com a participação das pessoas e montamos a rádio com a ajuda da população”. (Roberto Freitas, 2006)

As discussões produziram um Estatuto para a Associação que seria responsável pela emissora, agora denominada Associação Rádio Comunitária Zabelê FM. Em uma das reuniões do grupo foi discutido sobre qual o nome dar à Rádio. Muitos nomes foram citados, como por exemplo, Amaralina, Aguapé, Pirambeba e Zabelê, foi aceito este último por ser o nome de uma ave silvestre da região em extinção. A Rádio Comunitária Zabelê FM entrou no ar em dezembro de 1996, operando na freqüência 104,3 instalada na casa de D. Isabel, situada à rua Santos Dumont, 182 – Quadra 03. Foi usado como estúdio o quarto do filho de D. Isabel o Roberto Freitas um dos fundadores da Rádio.

“Eu saia cedo para trabalhar e o Roberto é que movimentava o grupo GCUCA. Então tinha muito movimento aqui dessas pessoas. Eu saia para trabalhar, ele ficava dormindo e acordava mais tarde e quando eu vim perceber o entra e sai a Rádio já estava alguns dias aqui. (…) Eu perguntei, o que é isso? E eles responderam: – D. Isabel na casa da senhora tem uma Rádio. (…) Eu confiei em meu filho que já era adulto, aí ele me disse: – mãe aquele gravadorzinho que tem em cima do guarda-roupa da senhora nós pegamos para a Rádio. (…) Os locutores que foram chegando, todo mundo eu tinha como meus filhos, eram pessoas maravilhosas que me respeitavam. Quando eu chegava ia para a cozinha fazer comida e os que estavam fazendo o programa se quisessem almoçar comigo almoçava. Eu já era mãe de 10 filhos e com a Rádio chegou mais uma filha”. (Isabel Pereira de Freitas – 70 anos, 2006)

No inicio a estrutura da Rádio era muito simples. Tinha apenas um transmissor de produção artesanal, confeccionado por José Carlos Gouveia, técnico eletrônico em Remanso, um aparelho de som, uma radiola, um dec, vários discos de vinil e fitas cassetes. Inicialmente não havia nenhum toca cd. Um fato interessante é que por ser um transmissor artesanal, causava interferência em outros meios de comunicação e até no radio da viatura da polícia militar. A população compreendia e pedia que solucionasse o problema, mas com muita simpatia, sem reclamação. Mesmo com todas essas dificuldades a Rádio conseguiu funcionar abrindo espaço para todas as pessoas que precisavam de seus serviços. Até uma banda de sucesso nacional, a Raio da Silibrina deu entrevista nesse estúdio. As primeiras transmissões eram feitas todos os dias a partir do meio dia até às 20:00 horas.

“(…) Nós iniciávamos a partir do meio dia porque de certa forma todo mundo trabalhava e quem ligava o transmissor nessa época era eu, eu no caso trabalhava, tinha que ensaiar até o meio dia, e meio dia ligava o transmissor e ficava até às 20:00 horas em fase experimental tocando só musica. Alguns meses depois eles começaram os programas, programas simples, mais ou menos assim, de dar horas, recadinhos, avisos…”. (Émerson de Souza, 2006)

Logo a Zabelê passou a funcionar das 06:00 horas às 22:00 horas, adotando um modelo de programação voltado para os interesses da comunidade, uma comunicação voltada para o processo de construção da cidadania.

“Na verdade, quando a gente começou a pensar a Rádio, já começamos a pensar de uma forma adulta, porque o que suscitou a discussão no grupo foi o projeto de lei de Rádios Comunitárias. E então já discutíamos os objetivos de uma Rádio Comunitária, de prestar serviços à comunidade, de divulgar a cultura, de divulgar determinados valores. Então a Rádio já nasceu com uma cara, pelo menos uma vontade política comunitária. Ela não nasceu com interesses particulares, estranhos ao caráter comunitário”. (Vavá Costa, 2006)

“(…) Pretendíamos um canal onde a comunidade pudesse se expressar, expor as suas aspirações, a sua cultura, o seu sentimento, a sua maneira de ser. Um pais onde parte da informação é manipulada pelos grandes detentores dos Meios de Comunicação, é necessário que haja uma contrapartida, onde a grande massa também possa se expressar. Não quero fazer juízo de valor, mas hoje nós vemos a Globo por exemplo que está presente em todo o pais e nos perguntamos: De quem é a voz que fala através da Globo? Quais são os verdadeiros interesses que estão por trás daquelas informações? Então a idéia de uma Rádio Comunitária é justamente possibilitar à comunidade a oportunidade de ver expressada a sua própria voz”. (Pe. José Benedito, 2006)

O próximo passo foi se articular com instituições nacionais que defendiam e estavam à frente do movimento pelas rádios comunitárias. O grupo contou com a ajuda e orientações da ABRAÇO[1], através se sua secretária nacional, a jornalista Lise Guimarães Braga, que promoveu encontros e cursos de capacitação com os integrantes da emissora. Contaram também com o apoio do SEDICA, que promoveu várias oficinas e treinamentos de como trabalhar a comunicação popular.

Em 1997 os fundadores da Zabelê sentem a necessidade de aumentar a área de abrangência da Rádio, colocando uma potência de 60 watts com o objetivo de atender o interior do município. Depois de 10 meses funcionando na casa de D. Isabel os estúdios da Rádio mudam para uma sala do Sindicato dos Trabalhadores Rurais, situado à rua Coronel José Castelo Branco, 248 – Quadra 04. Seus idealizadores já tinham certeza de que o projeto de uma rádio comunitária daria certo. Era preciso melhorar as estruturas da emissora para melhor atender à comunidade. Para montar a Rádio nesse novo estúdio, seus integrantes organizaram uma campanha para arrecadar fundos para a compra de um transmissor de produção industrial e outros equipamentos para a instalação da Rádio. A comunidade em peso contribuiu doando quantias de R$ 1,00 (um real) a R$ 500,00 (quinhentos reais), pessoas do povo, comerciantes e instituições como Banco do Brasil, Casa de Saúde, Escola Girassol e Prefeitura Municipal.

[1] Associação Brasileira de Rádios Comunitárias

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